segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Um aniversário com bolo de polenta

A gratidão no coração consegue transformar lamentações em alegria
        
    Aniversário de criança pede bolo, salgadinho, brigadeiro, refrigerante... E quando não se pode ter nada disso, já que a saúde da criança depende de uma alimentação regrada, sem nenhuma guloseima? 


     Não conseguia imaginar como uma criança tão pequena teria uma vida normal podendo se alimentar apenas com leite de soja (puro), arroz, frango e fubá. Essa era a nova  realidade que eu tanto negava para os próximos meses e talvez anos. Confesso que naquela época fechei as portas da minha vida emocional e social para uma reforma, lavando meus pensamentos com lágrimas e mais lágrimas. 


   Comemorar os 2 anos de vida do meu filho que não podia comer quase nada foi uma experiência de vida que marcou uma nova fase para nossa família. Passamos a não apenas entender, mas principalmente a viver, que sempre há mais de uma escolha frente as situações indesejáveis que aparecem na vida de todos nós.  Caberia a nós deixar passar despercebido um dia tão especial para celebração de mais um ano de vida (um ano tão cheio de dificuldades, mas com a vitória de ter nosso filho ali ao nosso lado) ou usar toda nossa criatividade e transformar as lamentações em alegria. 


       Optamos por viver intensamente esse e todos os momentos que viriam depois da festa. Junto com a família que tanto nos apoiou nos momentos mais difíceis, fizemos uma super festa com uma deliciosa galinhada e um bolo de polenta. Nem todas as crianças experimentaram o inédito bolo de aniversário, mas se divertiram bastante colocando o dedo naquele bolo colorido que tinha uma vela musical em forma de bola de futebol. Sem nenhum chiclete, bala e tranqueiras que dentista tanto abomina, montamos uma lembrancinha com óculos colorido e frasco de bolinha de sabão, que encantou e lambrecou tanto a casa da vovó.


     Desde então, participar de festas de aniversário nos traz muito mais que algumas centenas de calorias a mais - já que hoje, junto com meu filho, me esbaldo nos brigadeiros e salgadinhos. Relembro com emoção aqueles anos de restrição alimentar, e cheia de gratidão no coração agradeço a Deus por mais um ano de vida na presença do aniversariante. 


    Algumas vezes realmente não nos cabe escolher passar por certas dificuldades na vida, mas na grande maioria, podemos SIM   reagir diferente diante do que não nos agrada. Muita sabedoria teremos se passarmos por situações inevitáveis de uma maneira menos dolorosa, enfrentando a vida com mais ousadia e talvez mais alegria.
      

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Quando a tristeza é do amigo

Algumas tristezas podem trazer amigos inesperados


    Nestes últimos tempos em que algumas pessoas próximas e queridas a mim perderam seus familiares (mãe, pai, marido, filho), pude perceber novos laços de amizades se apertarem com a força desta tristeza. Embora a dor contínua da saudade que a perda de alguém tão importante estivesse alojada no coração do outro, uma maior proximidade nestes tempos difíceis trouxe mais amor e dor ao meu coração: característico do sentimento compaixão.

      Por mais que as pessoas queiram se sentir diferentes umas das outras, as notícias dos telejornais ou da própria vizinhança comprovam que somos exatamente iguais diante da suscetibilidade em passar por coisas que não desejamos. Acidentes, doenças e mortes inesperadas não distinguem pessoas; e neste entendimento deveríamos nos preocupar mais uns com os outros... dispostos a consolar e sermos consolados por pessoas que talvez venham a se tornar importantes nas nossas vidas.

     Quando enfrentamos as dificuldades, sejam nossas ou mesmo em posição de retaguarda de nossos conhecidos, tenho a impressão que a vida fica mais real. Talvez porque fique claro ser apenas sonho planejar o amanhã, se nem ao menos sabemos se estaremos com vida para cumprir o programado. Independente de crenças religiosas, ninguém há de contestar a fragilidade da vida, e que tantos planos que gastamos horas e horas elaborando não passam de ilusão.

     Nas minhas angústias tive pessoas ao meu lado que nem sempre foram escolhidas por mim (por isso creio na soberania de Deus) mas que vieram a se tornar amigos de confiança e conquistaram lugar importante na vida de nossa família.   

     Alegrias e  sofrimentos aproximam pessoas, cercando-as em tempos diferentes para que tenham tempo e estrutura emocional ao  amparar uns aos outros . Não existem palavras a serem ditas que sejam mágicas o suficiente para tirar a dor de alguém que sofra; mas um abraço, estar perto a uma distância que nos permita andar alguns minutos de mãos dadas ou ver sua lágrima refletida nos olhos de um amigo talvez faça sentir que tamanha "imensidão" que aflige nosso coração possa ser verdadeiramente compartilhada.

     A tristeza de um amigo (ou futuro amigo) muitas vezes passa despercebida por não acharmos tempo suficiente em nossa correria para estarmos presente na vida de outra pessoa, afinal problemas e afazeres todos nós temos (aos montes, dependendo a época). Quando isso acontece vale a pena refletir se estamos conduzindo nossa vida para um rumo certo: longe das pessoas e da oportunidade que nos é dada de contribuir com o que temos de mais precioso - AMOR.